Hoje estava a ter um daqueles momentos de nostalgia, quando me veio à cabeça uma recordação que estava guardada numa gaveta lá no fundo da minha mente e surpreendentemente tão viva: o meu primeiro dia na Faculdade.
Foi no fim da década de 90, em Outubro, quando ainda havia Outono e as manhãs já pediam um agasalho. O relógio marcava as 08H45 e eu já estava atrasada 15 minutos. Lá ía eu de passo apressado a atravessar o largo da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, em direcção ao edifício onde se situava o Departamento de Antropologia e o Auditório -1 onde iria ter a minha primeira aula: Biologia e Cultura.
À minha frente caminhava uma rapariga de cabelos compridos pretos que vestia um casaco verde claro. Lembro-me de pensar para mim "se calhar vai também para a mesma aula, era bom, pelo menos não era a única a chegar atrasada".
Entrei no edifício e desci as escadas até à cave. Vi logo o auditório. Respirei fundo e entrei. Pedi licença e dirigi-me para o fundo da sala onde se tinha acabado de sentar a rapariga de casaco verde, a Márcia.
Sentei-me ofegante e olhei para o estrado onde estava o Professor. Era já de alguma idade, alto, magro, com cabelo e barba grisalhos e vestia um fato cinzento já gasto. Falava e gesticulava com tal emoção que, confesso, surpreendeu-me. Ah! e estava a fumar, impensável hoje em dia.
O auditório estava cheio e em silêncio a ouvir as palavras ferverosas do Professor, e foi neste momento que entrei em pânico. Não estava a perceber nada do que estava a ser dito, era chinês para mim. Eu já pensava, que vai na volta, não estava no lugar certo, a Faculdade não era para mim...talvez fosse um problema de concentração. Concentrei-me e passados alguns minutos, nada!
Bem, quando terminou a aula fiquei a saber que não tinha sido a única, que tal como eu, muitos dos meus colegas não tinham alcançado as palavras do excêntrico Professor.
Nas aulas seguintes fui entrando no ritmo e comecei a absorver tudo, a aprender o que nunca tinha aprendido...histórias e estórias, o tempo e o espaço...
E foi assim, um momento único, uma recordação deliciosa de tempos que deixam saudades.
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